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Interferências da alimentação nos exames laboratoriais: o que evitar?

A alimentação antes da coleta de exames laboratoriais pode causar alterações importantes nos resultados, comprometendo a acurácia diagnóstica e levando a interpretações equivocadas. Para profissionais de saúde, compreender essas interferências é importantíssimo para orientar adequadamente os pacientes e garantir a qualidade dos resultados.

No conteúdo de hoje, abordamos sobre  quais alimentos e hábitos alimentares devem ser evitados antes da realização de exames, além de citarmos os impactos de suplementos e horários de coleta nos principais parâmetros laboratoriais. Continue a leitura para se atualizar!

Por que a alimentação interfere nos exames laboratoriais?

Diversos componentes dos alimentos podem modificar parâmetros bioquímicos, hematológicos e hormonais. Essas alterações podem ocorrer de forma direta, elevando ou reduzindo níveis séricos, ou indiretamente, interferindo nos métodos analíticos utilizados pelos laboratórios.

O estado de jejum, a composição da última refeição e até o horário da coleta são fatores que influenciam resultados como glicemia, perfil lipídico, creatinina, hormônios e marcadores inflamatórios.

Principais exames afetados pela alimentação

Glicose, insulina e C-peptídeo

O consumo recente de alimentos ricos em carboidratos pode elevar significativamente a glicemia, afetando também os níveis de insulina e C-peptídeo, prejudicando o diagnóstico de condições como o diabetes mellitus.

Perfil lipídico (colesterol e triglicerídeos)

Refeições ricas em gordura podem alterar os níveis de triglicerídeos, sendo essencial respeitar o jejum de 8 a 12 horas antes da coleta.

Creatinina

O consumo de carne vermelha nas horas anteriores à coleta pode elevar temporariamente a creatinina, interferindo na avaliação da função renal.

Exames hormonais (TSH, hormônios tireoidianos, testosterona)

Além da alimentação, o horário da coleta afeta significativamente os níveis de hormônios como cortisol, TSH e prolactina, devido ao ritmo circadiano.

Suplementos e alimentos funcionais: atenção redobrada

A ingestão de suplementos, especialmente os que contêm biotina (vitamina B7), é uma das causas mais conhecidas de interferência laboratorial. A biotina, presente também em alimentos como ovos, carnes e laticínios, pode causar falsos resultados em imunossaios hormonais, afetando testes como TSH, troponina e HCG.

Sabendo disso, uma boa recomendação prática é instruirpacientes em uso de suplementos de biotina que interrompam o consumo pelo menos uma semana antes da coleta de exames hormonais.

Grupos de pacientes que exigem atenção especial

Certos grupos de pacientes apresentam condições clínicas que aumentam o risco de interferências laboratoriais relacionadas à alimentação, exigindo orientações nutricionais e de jejum mais rigorosas antes da realização de exames. A seguir, apresentamos alguns dos padrões básicos mais convencionais.

Pacientes em uso de agonistas do receptor de GLP-1, como semaglutida e liraglutida, frequentemente utilizados no tratamento do diabetes tipo 2 e da obesidade, devem ser orientados a seguir uma dieta líquida clara por pelo menos 24 horas antes de procedimentos que envolvam sedação, como endoscopias ou coletas invasivas com anestesia. Essa recomendação visa reduzir o risco de aspiração pulmonar, uma vez que esses fármacos retardam o esvaziamento gástrico, prolongando o tempo de permanência de alimentos no estômago.

Outro grupo que merece atenção é o de pacientes com gastroparesia, condição que pode ser idiopática, diabética ou secundária ao uso de opioides. Esses indivíduos apresentam lentificação no trânsito gástrico e, por isso, muitas vezes necessitam de um período de jejum mais prolongado ou da adoção de dietas especiais, como a líquida clara, para garantir o esvaziamento gástrico completo antes de procedimentos que envolvam coleta de líquidos corporais ou administração de sedativos.

Pacientes com insuficiência renal crônica, cirrose hepática ou insuficiência cardíaca são mais vulneráveis a desequilíbrios eletrolíticos e descompensações metabólicas durante períodos de jejum prolongado. Nestes casos, além da orientação alimentar específica, o monitoramento clínico durante o preparo para exames é fundamental para evitar alterações significativas nos níveis de sódio, potássio, glicose e ureia, que podem não refletir o estado clínico real do paciente se o preparo não for adequadamente conduzido.

Em situações de risco nutricional elevado, como em pacientes oncológicos submetidos a cirurgias eletivas, a avaliação nutricional prévia é essencial. Estudos indicam que déficits nutricionais não corrigidos aumentam o risco de complicações pós-operatórias, infecções e tempo de recuperação prolongado. Nesses casos, pode ser indicado um suporte nutricional específico, com suplementação calórico-proteica antes da coleta de exames e dos procedimentos.

Pacientes diabéticos formam outro grupo crítico. Durante o jejum, eles estão sujeitos a episódios de hipoglicemia ou hiperglicemia, dependendo do regime terapêutico. A suspensão ou ajuste de medicamentos, como insulina e hipoglicemiantes orais, deve ser cuidadosamente planejada e orientada, com recomendações claras sobre o monitoramento glicêmico antes, durante e após o período de jejum.

Por fim, pacientes com doença celíaca, ou sob investigação dessa condição, devem manter o consumo de glúten até a realização dos exames diagnósticos (sorologia e biópsia intestinal), pois a retirada precoce do glúten pode levar a resultados falso-negativos, prejudicando a confirmação diagnóstica.

De modo geral, cada um desses grupos demanda uma abordagem personalizada, reforçando a importância de uma anamnese detalhada e de uma comunicação adequada entre os profissionais de saúde e os pacientes.

Recomendações gerais para orientar os pacientes

Algumas práticas gerais podem beneficiar a qualidade do exame e, consequentemente, do diagnóstico. Desta forma, antes da coleta de exames laboratoriais, oriente o paciente a:

  • Realizar jejum de 8 a 12 horas para exames que exigem.
  • Evitar carnes vermelhas antes da dosagem de creatinina.
  • Suspender álcool e cafeína nas 24 horas anteriores.
  • Não ingerir suplementos de biotina por pelo menos uma semana antes.
  • Restringir alimentos específicos quando indicado (ex.: para dosagem de 5-HIAA ou metais pesados).
  • Seguir dieta líquida clara em casos específicos, como uso de GLP-1 RA ou gastroparesia.

Cada orientação deve ser individualizada de acordo com o exame solicitado e o perfil clínico do paciente. De todo modo, a alimentação tem um impacto direto e relevante na qualidade dos resultados laboratoriais.

Para garantir diagnósticos precisos e seguros, é importante que profissionais de saúde adotem uma abordagem proativa, fornecendo orientações adequadas aos pacientes.

Quer saber mais sobre outras interferências que podem comprometer os resultados laboratoriais? Leia nosso conteúdo sobre: Remédios interferem em exames laboratoriais?

Referências:

Sacks, David B et al. “Guidelines and Recommendations for Laboratory Analysis in the Diagnosis and Management of Diabetes Mellitus.” Diabetes care vol. 46,10 (2023): e151-e199. doi:10.2337/dci23-0036

Hashash, Jana G et al. “AGA Rapid Clinical Practice Update on the Management of Patients Taking GLP-1 Receptor Agonists Prior to Endoscopy: Communication.” Clinical gastroenterology and hepatology : the official clinical practice journal of the American Gastroenterological Association vol. 22,4 (2024): 705-707. doi:10.1016/j.cgh.2023.11.002

Plumelle, Dorian et al. “Influence of diet and sample collection time on 77 laboratory tests on healthy adults.” Clinical biochemistry vol. 47,1-2 (2014): 31-7. doi:10.1016/j.clinbiochem.2013.11.002

Li D, Radulescu A, Shrestha RT, et al. Association of Biotin Ingestion With Performance of Hormone and Nonhormone Assays in Healthy Adults. JAMA. 2017;318(12):1150–1160. doi:10.1001/jama.2017.13705

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