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Impactos dos suplementos nos resultados dos exames de sangue

O consumo crescente de suplementos alimentares representa um desafio significativo na prática clínica: as interferências em exames laboratoriais. Esses impactos podem mascarar condições de saúde, gerar diagnósticos imprecisos e comprometer a escolha de tratamentos adequados. Compreender essas influências e orientar os pacientes sobre o uso correto dos suplementos é indispensável para os profissionais de saúde. 

Neste conteúdo, você descobrirá como os suplementos podem distorcer resultados laboratoriais, identificar exemplos práticos de interferências comuns e adotar estratégias claras para tornar sua prática clínica mais segura e eficaz. Confira! 

Qual a diferença entre suplementos e suplementos alimentares? 

Embora frequentemente usados como sinônimos, os termos suplementos e suplementos alimentares têm significados distintos: 

  • Suplementos: um termo abrangente que inclui qualquer produto utilizado para complementar funções do organismo. Isso inclui vitaminas, minerais, compostos vegetais, proteínas, e até produtos para desempenho esportivo e estética. 
  • Suplementos alimentares: uma subcategoria específica voltada para complementar a dieta. Regulamentados como alimentos pela Anvisa, esses produtos fornecem nutrientes essenciais (vitaminas, minerais, proteínas ou bioativos) para atender necessidades nutricionais. 

Enquanto os suplementos alimentares têm como foco exclusivo a complementação da dieta, outros tipos de suplementos podem incluir finalidades mais amplas, como estética, desempenho físico ou bem-estar geral. Essa distinção é importante para avaliar seus impactos laboratoriais. 

Aumento do consumo de suplementos 

O consumo de suplementos alimentares cresceu exponencialmente nos últimos anos, impulsionado por promessas de benefícios estéticos, imunológicos e de desempenho físico. Produtos como colágeno, complexo de vitaminas B e ômega-3 são amplamente utilizados, muitas vezes sem supervisão médica. 

Uma das razões para esse aumento é a ausência de regulamentação tão rigorosa quanto a de medicamentos. Isso resulta em um mercado diverso, mas com produtos de qualidade variável e, em alguns casos, composições inadequadas. 

Essa realidade desafia os profissionais de saúde, especialmente quando os pacientes não relatam o uso de suplementos durante a consulta. A falta de anamnese detalhada pode dificultar a identificação de interferências em exames laboratoriais e levar a diagnósticos equivocados. 

Como os suplementos interferem nos resultados laboratoriais? 

Os suplementos podem alterar biomarcadores de diversas maneiras, seja por interferência química nos métodos de análise, seja por alterações nos níveis dos componentes sanguíneos. A seguir, confira exemplos específicos de impactos laboratoriais: 

Biotina: interferência em exames hormonais e cardíacos 

Presente em muitos suplementos de beleza, a biotina pode interferir em exames que utilizam imunoensaios, levando a: 

  • Falsos níveis baixos de TSH (hormônio tireoestimulante), simulando hipertireoidismo; 
  • Falsos resultados de troponina, dificultando o diagnóstico de infarto do miocárdio; 
  • Impacto em testes de gravidez: pode levar a resultados falsos em exames de HCG urinário. 

Ferro: distorção de marcadores inflamatórios 

Altos níveis de ferro podem elevar a ferritina, frequentemente utilizada como biomarcador de inflamação. Isso pode sugerir erroneamente a presença de processos inflamatórios. 

Colágeno e proteínas: 

O uso prolongado de suplementos à base de colágeno ou proteínas pode alterar resultados de exames de função hepática e renal, como AST (aspartato aminotransferase), ALT (alanina aminotransferase), ureia e creatinina. Isso pode mascarar ou confundir diagnósticos em pacientes com doenças renais, ou hepáticas pré-existentes. 

Vitamina C: mascarando a glicemia 

Altas doses de vitamina C, frequentemente presentes em suplementos imunológicos, podem alterar exames de glicose ao interferir em reações enzimáticas. Isso gera resultados falsamente baixos, mascarando episódios de hiperglicemia ou hipoglicemia. Em pacientes com diabetes, essa interferência pode atrasar o diagnóstico ou comprometer ajustes no manejo terapêutico. 

Complexo B e ácido fólico: 

Esses suplementos podem impactar exames hematológicos, como hemograma completo e dosagem de ferro e vitamina B12. Os níveis de biomarcadores podem estar artificialmente elevados, dificultando o diagnóstico de anemias ou outros distúrbios hematológicos. 

Ômega-3: alteração em parâmetros de coagulação 

O consumo de ômega-3 pode prolongar o tempo de coagulação e impactar o INR (Razão Normalizada Internacional), especialmente em pacientes que fazem uso de anticoagulantes. 

Interações medicamentosas e outros impactos clínicos 

Além de alterarem exames, os suplementos podem modificar a ação de medicamentos, aumentando ou diminuindo sua eficácia e complicando o manejo clínico. Exemplos práticos de interações: 

  • O excesso de vitamina K: pode reduzir a eficácia de anticoagulantes como a varfarina, alterando o INR e elevando o risco de tromboses. 
  • Fitoterápicos (ex.: ginseng, erva-de-São-João): modificam a metabolização hepática de medicamentos ao interagir com enzimas como o CYP450. 

Riscos do consumo excessivo de nutrientes 

O consumo inadequado de suplementos pode resultar em toxicidades que vão além das interferências nos exames laboratoriais, comprometendo a saúde de forma mais ampla. Estudos mostram que a suplementação acima das necessidades diárias recomendadas não oferece benefícios adicionais significativos e, em alguns casos, pode até gerar riscos. Veja alguns exemplos clínicos relevantes: 

  • Selênio: doses elevadas estão associadas a um aumento da resistência insulínica e, por consequência, maior risco de diabetes tipo 2. 
  • Vitamina A: pode causar hepatotoxicidade, com alterações em enzimas como ALT e AST, simulando danos hepáticos. 
  • Metais pesados: suplementos adulterados com contaminantes, como chumbo e mercúrio, interferem em exames renais e hepáticos. 

Boas práticas para profissionais de saúde 

Para reduzir os riscos associados aos suplementos e evitar impactos nos exames laboratoriais, é interessante que os profissionais de saúde adotem as seguintes estratégias: 

  1. Investigar o uso de suplementos na anamnese: perguntar diretamente, pois muitos pacientes omitem essa informação. 
  1. Orientar pausas antes de exames: solicitar que o paciente interrompa o uso de suplementos alguns dias antes de coletas, quando possível. 
  1. Analisar rótulos e composições: verificar os ingredientes ativos e potenciais interações medicamentosas. 
  1. Priorizar suplementos regulamentados: incentivar o consumo de produtos certificados pela Anvisa para evitar adulterações e contaminações. 

Regulamentação no Brasil: desafios e cuidados 

A Anvisa regula os suplementos alimentares, estabelecendo limites para sua composição e rotulagem. Porém, lacunas na fiscalização permitem a comercialização de produtos que não seguem as normas. Por isso, é importante que os profissionais alertem os pacientes sobre a importância de adquirir suplementos de marcas confiáveis. 

Como vimos ao longo deste conteúdo, os suplementos alimentares desempenham um papel importante na complementação nutricional quando utilizados de forma consciente e orientada. No entanto, seu consumo indiscriminado pode causar interferências em exames laboratoriais, comprometendo diagnósticos e tratamentos. Para minimizar esses riscos, é interessante que os profissionais de saúde adotem uma abordagem criteriosa, investigando o uso desses produtos na anamnese e orientando os pacientes sobre práticas seguras.  

Quer saber mais sobre como medicamentos podem impactar resultados de exames laboratoriais? Confira o conteúdo completo.  

Referências: 

Burns EK, Perez-Sanchez A, Katta R. Risks of Skin, Hair, and Nail Supplements. Dermatol Pract Concept. 2020 Oct 26;10(4):e2020089. doi: 10.5826/dpc.1004a89.  

Ronis MJJ, Pedersen KB, Watt J. Adverse Effects of Nutraceuticals and Dietary Supplements. Annu Rev Pharmacol Toxicol. 2018 Jan 6;58:583-601. doi: 10.1146/annurev-pharmtox-010617-052844.  

Skin Therapy Letter. (n.d.). Skin, hair and nail supplements: An evidence-based approach. Retrieved November 18, 2024, from https://www.skintherapyletter.com/dermatology/skin-hair-nail-supplements-evidence/ 

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