A pneumonia é uma das principais causas de morbimortalidade no Brasil e no mundo, especialmente entre populações vulneráveis como crianças, idosos e imunossuprimidos. Caracteriza-se por um processo infeccioso que atinge os pulmões, podendo ter origem bacteriana, viral ou fúngica. Em contextos hospitalares, destaca-se como uma das infecções relacionadas à assistência à saúde (IRAS) mais frequentes.
A semelhança dos sintomas com outras doenças respiratórias, como bronquite ou COVID-19, pode dificultar o diagnóstico clínico inicial e atrasar o início do tratamento. Por isso, os exames laboratoriais fornecem dados importantes para a diferenciação etiológica e na escolha da terapia adequada.
No conteúdo de hoje, você entenderá como o diagnóstico laboratorial contribui para uma conduta clínica mais precisa e segura.

Pneumonia: diferentes formas de apresentação e importância da classificação
A pneumonia pode ser classificada conforme o ambiente de aquisição e a situação clínica do paciente, sendo essas classificações determinantes para a escolha dos exames laboratoriais e antimicrobianos. Abaixo, destacamos algumas destas categorizações.
Pneumonia adquirida na comunidade (CAP)
É a forma mais comum e ocorre fora do ambiente hospitalar. O diagnóstico é inicialmente clínico e radiológico, com apoio de exames laboratoriais para avaliação inflamatória e, sempre que possível, identificação do agente etiológico. Patógenos como Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenzae e Mycoplasma pneumoniae são frequentes nesta categoria.
Pneumonia hospitalar (HAP) e associada à ventilação (VAP)
Manifesta-se após 48 horas de internação ou de intubação, sendo comum em pacientes imunossuprimidos ou críticos. A coleta de amostras por métodos invasivos, como lavado broncoalveolar (BAL), permite uma avaliação quantitativa do crescimento bacteriano. A presença de crescimento acima dos limiares definidos indica infecção ativa, enquanto níveis baixos sugerem colonização.
Testes moleculares oferecem resultados rápidos e abrangentes, auxiliando na escalada ou desescalada antimicrobiana precoce.
Exames laboratoriais no diagnóstico da pneumonia
A combinação de exames tradicionais com tecnologias moleculares torna o diagnóstico mais preciso e permite uma abordagem terapêutica mais direcionada.
Marcadores laboratoriais gerais
- Hemograma completo
- Proteína C Reativa (PCR) e Procalcitonina: diferenciação entre causas virais e bacterianas.
- Testes de antígeno urinário para Streptococcus pneumoniae: útil em adultos, com restrição em pediatria por risco de falso-positivos.
Testes moleculares e microbiológicos
- Painéis sindrômicos respiratórios: detectam múltiplos patógenos em amostras do trato respiratório.
- Cultura de escarro, aspirado traqueal ou BAL: fundamentais em casos de HAP e VAP.
- Testes rápidos em pediatria: incluem PCR multiplexado em amostras de escarro induzido ou nasofaringe, especialmente úteis quando a coleta convencional não é possível.
Avaliação de complicações da pneumonia: exames complementares
A identificação de complicações locais e sistêmicas exige exames adicionais conforme a gravidade e a resposta ao tratamento.
Imagem avançada
- Tomografia de tórax (CT): essencial para investigar pneumonia necrosante, abscessos e empiema.
- Ultrassonografia torácica: útil na caracterização de derrames pleurais e no auxílio à drenagem.
Procedimentos diagnósticos
- Toracocentese: permite análise bioquímica e microbiológica do líquido pleural.
- Broncoscopia com BAL: coleta de amostras profundas em pacientes não responsivos à terapia inicial.
- Biópsia pulmonar: considerada quando outras abordagens são inconclusivas ou há suspeita de causas não infecciosas.
De modo geral, a abordagem laboratorial da pneumonia é um elemento-chave para um diagnóstico assertivo e manejo terapêutico seguro. Testes bioquímicos, microbiológicos e moleculares atuam de forma complementar para identificar o agente etiológico, avaliar a gravidade da infecção e monitorar a resposta ao tratamento.
Portanto, a correta interpretação desses exames permite não apenas maior eficácia clínica, mas também contribui para o uso racional de antibióticos e melhores desfechos em saúde pública.
Pacientes imunossuprimidos ou em tratamento oncológico estão entre os mais suscetíveis às complicações da pneumonia. Por isso, vale a pena conferir também nosso conteúdo sobre Administração de medicamentos para quimioterapia: práticas seguras e eficientes.
Referências:
Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Diretrizes para manejo da pneumonia adquirida na comunidade em crianças: atualização 2024.
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