As disfunções tireoidianas são um tema central na endocrinologia dada a importância dos hormônios tireoidianos no desenvolvimento, crescimento e metabolismo energético. Alterações na tireoide, como hipotireoidismo, hipertireoidismo, nódulos tireoidianos e doenças autoimunes, variam de formas subclínicas a condições clinicamente significativas.
Por apresentarem sintomas muitas vezes inespecíficos, como fadiga, ganho ou perda de peso e alterações no humor, essas condições podem passar despercebidas. A avaliação precoce e o manejo adequado são essenciais para evitar complicações, especialmente cardiovasculares e metabólicas.
O papel da tireoide no organismo
A glândula tireoide é responsável pela produção dos hormônios tireoidianos tiroxina (T4) e triiodotironina (T3), fundamentais para a regulação do metabolismo basal e de diversas funções corporais. Esses hormônios participam de processos como a termogênese adaptativa, essencial para a geração de calor em resposta ao ambiente, e no controle da sensibilidade à insulina no fígado, reduzindo a gliconeogênese excessiva.
Além disso, os hormônios tireoidianos desempenham um papel importante na saúde óssea, influenciando o crescimento, o desenvolvimento e a remodelação dos ossos. No sistema nervoso central, eles são indispensáveis para a sobrevivência neuronal, a diferenciação celular e a mielinização, afetando diretamente a função cognitiva e a saúde mental.
O controle hormonal da tireoide ocorre por meio do eixo hipotálamo-hipófise-tireoide. O hormônio liberador de tireotropina (TRH), produzido no hipotálamo, estimula a secreção de TSH pela hipófise, que regula a produção de T4 e T3. Alterações nesse eixo podem levar a quadros de deficiência ou excesso hormonal, com impactos profundos no organismo.
Hipotireoidismo: impacto metabólico
O hipotireoidismo, caracterizado por níveis elevados de TSH e redução de T4, é uma das disfunções endócrinas mais comuns. Essa condição afeta diretamente o metabolismo lipídico, frequentemente resultando em dislipidemia, com aumento do colesterol total e LDL. Esses efeitos ocorrem devido à menor atividade dos receptores de LDL e à redução da regulação da biossíntese de colesterol mediada pela triiodotironina (T3).
Os sintomas clássicos incluem fadiga, letargia, ganho de peso, intolerância ao frio, constipação e alterações na voz. Em idosos, esses sinais podem se sobrepor aos de outras condições, dificultando o diagnóstico clínico.
Hipertireoidismo: complicações cardiovasculares
O hipertireoidismo é caracterizado por TSH suprimido e níveis elevados de T4 e/ou T3, levando a um aumento no metabolismo basal. Os sintomas incluem perda de peso não intencional, ansiedade, insônia, palpitações, intolerância ao calor e diarreia. As complicações cardiovasculares são especialmente preocupantes, com risco de fibrilação atrial e insuficiência cardíaca.
A Doença de Graves é a principal causa, respondendo por cerca de 70% dos casos. Outros fatores incluem o bócio nodular tóxico e, em alguns casos, tireoidite.
Diagnóstico das disfunções na tireoide
O diagnóstico das disfunções tireoidianas, como hipotireoidismo e hipertireoidismo, baseia-se principalmente em exames bioquímicos que avaliam os níveis de hormônio estimulante da tireoide (TSH), tiroxina livre (T4 livre) e triiodotironina livre (T3 livre). O TSH é o teste inicial mais sensível e específico para identificar disfunções na tireoide, sendo considerado o primeiro passo na avaliação clínica.
No caso do hipotireoidismo, o diagnóstico é geralmente sugerido por níveis elevados de TSH, enquanto a medição do T4 livre auxilia na confirmação do quadro. Em situações de hipotireoidismo subclínico, o TSH está elevado, mas o T4 livre pode permanecer dentro dos valores de referência. O tratamento com levotiroxina é recomendado para hipotireoidismo manifesto, enquanto o manejo do subclínico depende dos níveis de TSH, da presença de sintomas e de comorbidades associadas.
Para o hipertireoidismo, a presença de TSH suprimido, associada a níveis elevados de T4 livre e/ou T3 livre, confirma o diagnóstico. Identificar a causa subjacente do hipertireoidismo é essencial antes de iniciar o tratamento. Ferramentas complementares, como a dosagem de anticorpos contra o receptor de TSH, ultrassonografia da tireoide e cintilografia, são úteis na diferenciação das etiologias.
A gestão clínica das disfunções tireoidianas deve ser adaptada às necessidades individuais, levando em conta fatores como idade, sintomas presentes e situações específicas, como gestação e pacientes idosos, que frequentemente exigem ajustes no tratamento e acompanhamento mais rigoroso. A avaliação da função tireoidiana inclui exames laboratoriais e de imagem:
- TSH e T4 Livre (FT4): principais indicadores de disfunções;
- Anticorpos antitireoidianos: fundamentais para o diagnóstico de doenças autoimunes, como a tireoidite de Hashimoto;
- Ultrassonografia: identifica nódulos e alterações estruturais;
- Testes complementares: em casos específicos, podem avaliar alterações no metabolismo de T4 e T3.
Saiba mais sobre outros testes importantes na prática clínica, como a função ativador de coágulo.
Importância do diagnóstico precoce e manejo clínico da tireoide
As disfunções tireoidianas, quando não tratadas, podem levar a complicações metabólicas, cardiovasculares e neurológicas. Identificar precocemente alterações no eixo TSH-T4 permite:
- Reduzir o risco de complicações cardiovasculares;
- Melhorar o metabolismo energético e o controle do peso;
- Restaurar a qualidade de vida dos pacientes.
As disfunções tireoidianas são prevalentes e podem ser facilmente negligenciadas devido aos sintomas inespecíficos. O conhecimento sobre hipotireoidismo, hipertireoidismo e suas variantes subclínicas, bem como suas relações com obesidade e metabolismo, é essencial para um diagnóstico precoce e manejo clínico eficaz. Com uma avaliação criteriosa e intervenções personalizadas, é possível evitar complicações graves e promover o equilíbrio da saúde tireoidiana.
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Referências:
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