O sarampo é uma doença viral, altamente transmissível, que acomete indivíduos suscetíveis de qualquer idade e que pode evoluir com complicações graves e, eventualmente, fatais, principalmente em crianças menores de um ano de idade e adultos. Os viajantes permanecem como importantes atores na dispersão internacional da doença.
O sarampo representou um sério problema de saúde pública até o início da década de 1990, sendo uma importante causa de morbimortalidade entre crianças menores de cinco anos de idade. A doença se comportava de forma endêmica, com epidemias a cada dois ou três anos, deixando saldos negativos de muitas complicações e mortes.
A transmissão do sarampo ocorre por dispersão de partículas virais no ar ou pelo contato direto com as secreções nasais e orais eliminadas pelas pessoas infectadas. Os sintomas iniciais são febre, coriza, conjuntivite e tosse. A erupção cutânea aparece alguns dias depois destes sintomas, inicialmente na cabeça para depois atingir tronco, abdômen e membros. O indivíduo doente pode transmitir o vírus cerca de 5 dias antes a 5 dias após a erupção cutânea. Desta maneira, não é possível determinar quando o risco da exposição poderá ocorrer. O período entre a exposição ao vírus e o início dos sintomas (período de incubação) é de aproximadamente 12 dias (variando de 7 a 18 dias).
As complicações do sarampo incluem otite média, diarreia e broncopneumonia. As encefalites agudas podem resultar em sequelas. Na era pós-eliminação, os óbitos são derivados das complicações neurológicas e respiratórias. A letalidade é maior em crianças menores de cinco anos e imunocomprometidas ou desnutridas. Uma complicação tardia e rara (~ 11 para 100.000 casos de sarampo) da infecção pelo sarampo é a Panencefalite Esclerosante Subaguda (PEESA), doença degenerativa do sistema nervoso central caracterizada por deterioração progressiva intelectual, com convulsões subentrantes, que se manifesta em torno de 7 a 11 anos após a infecção pelo vírus selvagem, principalmente no acometimento de crianças menores de dois anos de idade.
A definição de caso suspeito de sarampo é: “Toda pessoa que apresente febre e exantema acompanhados de um ou mais dos seguintes sinais e sintomas: tosse e/ou coriza e/ou conjuntivite, independentemente da idade e da situação vacinal”.
A principal medida para evitar a introdução e a transmissão do vírus do sarampo é a vacinação da população suscetível, aliada a um sistema de vigilância de qualidade e suficientemente sensível para detecção oportuna de qualquer caso suspeito de sarampo.
A vacina contra o sarampo foi introduzida no País na década de 1960 e, em 1973, criou-se o Programa Nacional de Imunizações. Em 1973 e 1974, realizaram-se campanhas de vacinação em áreas urbanas de vários estados.
A vacina tríplice viral SCR (contra sarampo, caxumba e rubéola) é a medida de prevenção mais eficaz contra o sarampo. No calendário nacional de vacinação de rotina, a primeira dose deve ser administrada a toda criança de um ano de idade e uma segunda dose àquelas de quatro a cinco anos de idade.
A vacina SCR também é recomendada aos profissionais que atuam no setor de turismo, motoristas de táxi, funcionários de hotéis e restaurantes, que mantêm contato com viajantes internacionais, e aos que viajam ao exterior, principalmente a locais onde há circulação viral atual. Inclusive, aos profissionais de saúde, que atenderão os possíveis casos. Todo caso suspeito de sarampo deve ser notificado às Secretarias de Saúde dos municípios e do Estado. A notificação ao órgão estadual deve ser feita pelas Diretorias Regionais de Saúde (DRIs) e pela Central de Vigilância Epidemiológica do CVE, que atende 24 horas, pelo telefone 0800-0555466.
Os principais grupos de risco são as pessoas de seis meses a 39 anos de idade. Dentre os adultos, os trabalhadores de portos e aeroportos, hotelaria e profissionais do sexo apresentam maiores chances de contrair sarampo, devido à maior exposição a indivíduos de outros países que não adotam a mesma política intensiva de controle da doença. Como já foi dito, as crianças devem tomar duas doses da vacina combinada contra rubéola, sarampo e caxumba (tríplice viral): a primeira, com um ano de idade; a segunda dose, entre quatro e cinco anos. Os adolescentes, adultos (homens e mulheres) e, principalmente, no contexto atual do risco de importação de casos, os pertencentes ao grupo de risco, também devem tomar a vacina tríplice viral ou dupla viral (contra sarampo e rubéola).
Apesar da utilização da vacina contra o sarampo nos últimos 15 anos, período que antecedeu a Campanha Nacional de Vacinação, o país enfrentou em suas várias regiões cerca de nove epidemias, sendo 1986 o ano de maior incidência, com a ocorrência de 129.942 casos e o ano de menor incidência foi 1989.
O Plano de Erradicação do Sarampo foi adotado em toda região das Américas com objetivo comum a todos os países desde 1994. Preconiza ações para investigação de todos os casos suspeitos de sarampo e efetivação das medidas de prevenção e controle da doença.
O sarampo é uma doença infecciosa aguda, endêmica em algumas partes do mundo, porém, no Brasil, a transmissão autóctone foi interrompida em 2000.
No Brasil, os últimos casos de sarampo ocorreram no período de 2013 a 2015, sendo confirmados 1.310 casos em todo o país. A circulação do vírus do sarampo na região das Américas tinha sido declarada eliminada.
Na região das Américas, em 2017 até a semana epidemiológica 46 que termina em 18 de novembro, foram confirmados por laboratório 600 casos de sarampo em quatro países: Argentina (3 casos), Canadá (46 casos), Estados Unidos (120 casos) e Venezuela (431 casos). Na Venezuela, no surto em curso, a maioria dos casos ocorre no estado de Bolívar, em crianças com idade menor ou igual a um ano. Nos demais países, 36% dos casos ocorreram em crianças com idade entre 1 e 4 anos de idade, sendo que 60% dos casos não eram vacinados. Os genótipos identificados foram o D8 (de linhagem diferente da identificada no Brasil anteriormente) e o B3.
A Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, em dezembro de 2017, emitiu um alerta com várias orientações, entre elas alerta aos viajantes: no planejamento da viagem, com particular atenção se incluir participação em eventos de massa (esportivos, culturais, religiosos, etc.), o viajante suscetível deve receber a vacina tríplice viral 15 dias antes de viajar ao exterior, para sua completa proteção e a de seus familiares (8,9). A caderneta de vacinação é o documento de registro de sua situação vacinal. Durante a viagem, reforçar as medidas de higiene pessoal e do ambiente:
- Cobrir nariz e boca quando espirrar ou tossir;
- Lavar as mãos com frequência com água e sabão, ou então utilizar álcool em gel;
- Não compartilhar copos, talheres e alimentos;
- Procurar não levar as mãos à boca ou aos olhos;
- Sempre que possível evitar aglomerações ou locais pouco arejados;
- Manter os ambientes frequentados, sempre limpos e ventilados;
- Evitar contato próximo com pessoas doentes.
No retorno recente de viagem ao exterior, o viajante deve ficar atento: se apresentar febre, manchas avermelhadas pelo corpo, acompanhadas de tosse ou coriza ou conjuntivite, até 30 dias após seu regresso, estes podem ser sintomas do sarampo. Recomenda-se que procure imediatamente um serviço de saúde, informe seu itinerário de viagem, permaneça em isolamento social e evite circular em locais públicos.
A crise política na Venezuela tem atraído vários imigrantes para o Brasil. Desde dezembro de 2017, há um surto de sarampo na Venezuela o que fez com que o estado do Pará, que faz fronteira com esse país, ficasse em alerta para casos vindos do vizinho. No dia 14 de fevereiro de 2018, o governo cobrou a criação de barreira sanitária em Pacaraima, onde centenas de venezuelanos entram no país em busca de refúgio, emprego e melhores condições de vida para evitar que novos casos importados entrem no país.
Referências:
Alerta Sarampo. Divisão de Doenças de Transmissão Respiratória, do Centro de Vigilância Epidemiológica “Prof. Alexandre Vranjac”, Coordenadoria de Controle de Doenças, da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo e Instituto Adolfo Lutz (Laboratório de Vírus Entéricos). Rev Saúde Pública 2006;40(4):751.
JESUS, H. S.; NASCIMENTO, G. L.; ROSA, F. M.; SANTOS, D.A. Investigação de surto de sarampo no Estado do Pará na era da eliminação da doença no Brasil. Cad. Saúde Pública [online]. 2015, vol.31, n.10 [cited 2018-02-27], pp.2241-2246.
VERAS, RP., et al., orgs. Epidemiologia: contextos e pluralidade [online]. Rio de Janeiro: Editora
FIOCRUZ, 1998. 172 p. EpidemioLógica series, n°4. ISBN 85-85676-54-X.
http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2018-02/sobe-para-13-o-numero-de-casos-suspeitos-de-sarampo-em-roraima. Acesso em 27/02/2018.
https://www.bio.fiocruz.br/index.php/sarampo-sintomas-transmissao-e-prevencao. Acesso em 27/02/2018.
http://portal.saude.sp.gov.br/resources/cve-centro-de-vigilancia-epidemiologica/areas-de-vigilancia/doencas-de-transmissao-respiratoria/sindrome-da-rubeola-congenita-src/doc/sarampo17_alerta0412.pdf . Acesso em 27/02/2018.
https://g1.globo.com/rr/roraima/noticia/saude-de-roraima-deve-receber-28-mil-doses-de-vacina-para-combater-sarampo.ghtml. Acesso em 27/02/2018.