As doenças cardiovasculares ainda são a principal causa de morte nos países ocidentais, apesar dos grandes progressos, nas últimas décadas, no entendimento da fisiopatologia, na precisão diagnóstica e na eficácia terapêutica dessas doenças. Entre as doenças cardiovasculares, o infarto agudo do miocárdio (IAM) é a patologia em emergência médica com maiores índices de morbidade e mortalidade.
Basicamente, o IAM significa a morte de cardiomiócitos causada por isquemia prolongada. Em geral, essa isquemia é causada por trombose e/ou vasoespasmo despercebido sobre uma placa aterosclerótica. O estudo do IAM é fundamental devido a alta prevalência, mortalidade e morbidade da doença. Estudos epidemiológicos revelam taxas de mortalidade geral ao redor de 30%, sendo que metade desses óbitos ocorre nas primeiras duas horas do evento, e a outra metade, antes de receber atendimento médico.
Existe o conceito de que o IAM não é comum em indivíduos jovens por acometer somente 4% a 8% dessa população, e que em adultos jovens, ele é um evento raro e muitos estudos em salas de atendimento de emergência excluem indivíduos entre 30 e 40 e poucos anos. Considerando-se, entretanto, números absolutos, verifica-se que o acometimento nessa faixa etária não pode ser desconsiderado; apenas nos hospitais brasileiros credenciados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), durante o ano de 2000, mais de 4 mil pacientes com menos de 45 anos de idade foram internados devido ao IAM.
As características clínicas dessa população mais jovem são peculiares, com aspectos etiopatogênicos, anatômicos e prognósticos que os diferenciam dos indivíduos mais idosos; observam-se, por exemplo, diferenças nos fatores de risco: enquanto nos mais velhos a hipertensão arterial e a hipercolesterolemia são os fatores mais importantes, o tabagismo é referido em 80% a 94% dos jovens com infarto. Por outro lado, nos indivíduos com menos de 40 anos de idade predominam lesões uniarteriais ou até mesmo infarto com artérias coronárias normais à cinecoronariografia; nos indivíduos mais velhos, entretanto, predominam as lesões.
O diagnóstico é feito com base no quadro clínico, nas alterações eletrocardiográficas e na elevação dos marcadores bioquímicos. Tendo em vista que os sintomas são extremamente variados e que a elevação dos marcadores se inicia cerca de seis horas após o início da dor, o principal instrumento diagnóstico e que é determinante da conduta é o eletrocardiograma.
O exame de eletrocardiograma é realizado através de eletrodos que são colocados no tórax do paciente e permite a avaliação elétrica da atividade cardíaca (potenciais elétricos) e da sua condução, registrada em gráficos que são comparados com gráficos padrão e que indicam, assim, o estado de normalidade ou de alteração dos músculos e nervos do coração.
Figura 1: Eletrodo em gel com Ag+ Cl– utilizado na realização do eletrocardiograma
Os exames bioquímicos realizados para o diagnóstico são os chamados ‘enzimas cardíacas’ (marcadores cardíacos) CKMB, CPK, DHL e TGO. Em alguns hospitais, além dessas enzimas, é realizado o exame de Troponina I.
O CKMB, que é a isoenzima MB da creatina quinase, encontra-se principalmente no tecido cardíaco, apresentando concentrações substancialmente inferiores no músculo esquelético. A quantificação da CKMB é efetuada como rotina no estudo da enzimologia cardíaca e é útil no diagnóstico do IAM. Tipicamente, em casos de IAM não complicados, as determinações em série mostram um padrão no qual os níveis de CKMB se elevam num período de 4 a 8 horas após o início da dor, atingem um pico num período de 12 a 24 horas e, em seguida, caem para níveis normais após 48 horas.
A CKMB massa é o marcador bioquímico de escolha para o infarto do miocárdio peri-operatório durante as primeiras 48 horas após o início da dor. As concentrações de CKMB também têm sido utilizadas para avaliar a extensão do IAM e a ocorrência de um novo infarto.
O CPK permanece como o exame laboratorial mais específico e provavelmente mais sensível para a avaliação de dano muscular. Os outros marcadores musculares como o DHL e o TGO têm especificidade e sensibilidade menores, e sua utilidade clínica é limitada se considerarmos seus valores de maneira isolada.
A Troponina I é uma enzima encontrada no sangue, cuja medição dos seus níveis serve para diagnosticar um IAM sendo considerada o marcador de lesão do músculo cardíaco mais sensível disponível. Eleva-se na circulação simultaneamente a CK-MB, atingindo valores acima do limite de referência entre 4 e 8 horas. Atinge seu pico entre 14 e 36 horas após o início do IAM e permanece elevada por 3 a 7 dias, somente retornando aos níveis basais após 10 a 14 dias.
REFERÊNCIA
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