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Impactos da desidratação na interpretação de exames laboratoriais

A desidratação, mesmo em níveis leves, pode causar alterações significativas em diversos exames laboratoriais. Essa condição fisiológica, comum em idosos, crianças e pacientes críticos, pode gerar resultados que mascaram ou simulam quadros clínicos mais graves, como insuficiência renal, distúrbios hidroeletrolíticos e alterações metabólicas.

Neste conteúdo, reunimos informações atualizadas e relevantes para auxiliar os profissionais da saúde a reconhecer os impactos da desidratação nos exames laboratoriais e a evitar interpretações equivocadas durante a análise dos resultados.

Por que a desidratação interfere nos resultados laboratoriais?

A principal consequência da desidratação é a redução do volume plasmático, que provoca a chamada hemoconcentração. Esse fenômeno aumenta artificialmente a concentração de vários analitos no sangue, independentemente de doenças subjacentes.

Parâmetros como ureia, creatinina, sódio, potássio, glicose, proteínas totais e hematócrito podem estar elevados em um paciente desidratado, mesmo que sua função renal ou estado metabólico estejam preservados.

Além disso, a desidratação pode afetar a osmolaridade plasmática e urinária, a densidade urinária e até o equilíbrio ácido-base, dificultando o diagnóstico diferencial entre distúrbios clínicos verdadeiros e alterações causadas apenas pelo estado de hidratação inadequado.

Principais exames afetados pela desidratação

A identificação laboratorial da desidratação depende da análise de diversos parâmetros bioquímicos, hematológicos e urinários. Esses exames refletem, de diferentes formas, as alterações provocadas pela redução do volume plasmático, pela concentração de solutos e pelo comprometimento da perfusão renal. A interpretação correta desses resultados exige atenção ao contexto clínico do paciente, já que os valores podem sofrer influência tanto da desidratação quanto de outras condições clínicas associadas.

A seguir, destacamos os principais exames laboratoriais impactados pela desidratação:

Osmolalidade plasmática

A osmolalidade plasmática é considerada o padrão-ouro para avaliação laboratorial da desidratação. Valores acima de 300 mOsm/kg indicam déficit hídrico importante.

Sódio sérico

O sódio sérico costuma se elevar em situações de desidratação hipernatrêmica, sendo especialmente relevante em idosos e pacientes com perdas hídricas sem reposição adequada.

Ureia e relação ureia/creatinina

A ureia sérica e a relação ureia/creatinina refletem tanto a hemoconcentração quanto a redução do fluxo renal. Esses marcadores são úteis para avaliar desidratação em crianças e em quadros agudos.

Hematócrito e proteínas totais

O aumento do hematócrito e das proteínas totais indica hemoconcentração, sendo um sinal indireto de desidratação.

Osmolalidade e densidade urinária

A osmolalidade urinária e a densidade urinária aumentam devido à concentração de solutos na urina. Valores de densidade urinária acima de 1,020 g/mL são sugestivos de desidratação aguda.

Equilíbrio ácido-base

Casos de desidratação por perdas gastrointestinais podem gerar acidose metabólica, identificável pela redução do bicarbonato sérico e aumento do anion gap.

Fatores pré-analíticos que agravam os impactos da desidratação

Além das alterações fisiológicas, fatores pré-analíticos, como a postura do paciente durante a coleta, o tempo de garroteamento e as condições ambientais, podem potencializar os efeitos da desidratação nos exames laboratoriais. Por isso, é importante que o profissional avalie o estado de hidratação do paciente desde a triagem inicial até a interpretação final dos resultados laboratoriais.

Populações mais vulneráveis à desidratação

Sabemos que os pacientes Idosos representam o grupo de maior risco, especialmente os institucionalizados e aqueles com doenças crônicas ou comprometimento cognitivo. A redução da sensação de sede, as alterações na função renal e as barreiras físicas ou cognitivas dificultam a manutenção de uma hidratação adequada.

Pacientes com doenças crônicas, como insuficiência renal, diabetes e insuficiência cardíaca, também são mais propensos a desenvolver desidratação, agravada pelo uso de diuréticos e por limitações na capacidade de resposta renal.

Crianças, por sua vez, possuem maior proporção de água corporal e dependem totalmente de cuidadores para a reposição hídrica, o que as torna vulneráveis em casos de perdas agudas, como em quadros de diarreia ou vômitos.

Além desses, pacientes acamados, com dependência funcional ou em exposição a condições ambientais extremas, como ondas de calor, também devem ser cuidadosamente monitorados quanto ao risco de desidratação antes da coleta de exames laboratoriais.

De modo geral, a desidratação é um fator pré-analítico importante que pode impactar na interpretação de diversos exames laboratoriais. Para garantir diagnósticos precisos e evitar erros clínicos, é importante que os profissionais de saúde avaliem o estado de hidratação dos pacientes, especialmente em populações de risco.

Quer saber como avaliar parâmetros urinários na suspeita de desidratação? Leia também: O que você precisa saber sobre Tiras para Urinálise.

Referências:

Hayajneh, Wail A et al. “Comparison of clinical associations and laboratory abnormalities in children with moderate and severe dehydration.” Journal of pediatric gastroenterology and nutrition vol. 50,3 (2010): 290-4. doi:10.1097/MPG.0b013e31819de85d

Ritchie, Robert F et al. “Patient hydration: a major source of laboratory uncertainty.” Clinical chemistry and laboratory medicine vol. 45,2 (2007): 158-66. doi:10.1515/CCLM.2007.052

Lacey, Jonathan et al. “A multidisciplinary consensus on dehydration: definitions, diagnostic methods and clinical implications.” Annals of medicine vol. 51,3-4 (2019): 232-251. doi:10.1080/07853890.2019.1628352

Deißler, Linda et al. “Hydration Status Assessment in Older Patients.” Deutsches Arzteblatt international vol. 120,40 (2023): 663-669. doi:10.3238/arztebl.m2023.0182

Kidney Disease: Improving Global Outcomes (KDIGO) CKD Work Group. “KDIGO 2024 Clinical Practice Guideline for the Evaluation and Management of Chronic Kidney Disease.” Kidney international vol. 105,4S (2024): S117-S314. doi:10.1016/j.kint.2023.10.018

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