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Rastreamento precoce de intolerâncias alimentares: impacto clínico

A intolerância alimentar é uma condição frequentemente negligenciada, embora seus impactos clínicos possam ser amplos. Trata-se de uma reação adversa a alimentos que não envolve o sistema imunológico, o que a diferencia das alergias alimentares.  

Quando não identificadas, as intolerâncias alimentares podem comprometer a adesão a tratamentos médicos, mascarar sintomas de outras patologias e afetar diretamente a qualidade de vida dos pacientes. Por isso, neste conteúdo, reunimos as principais atualizações sobre o tema, com foco especial nos benefícios clínicos que o rastreamento precoce das intolerâncias alimentares pode oferecer à saúde e ao bem-estar dos pacientes. 

Por que o rastreamento precoce é essencial? 

Realizar o rastreamento precoce de intolerâncias alimentares permite não apenas o alívio de sintomas gastrointestinais, mas também a otimização de terapias em curso, especialmente em casos de doenças metabólicas, imunológicas ou inflamatórias.  

Muitas vezes confundidas com alergias, essas intolerâncias não recebem a devida atenção durante a anamnese, o que prejudica o planejamento terapêutico. O uso de exames específicos, como o teste de tolerância à lactose ou à glicose, permite intervenções mais precisas. 

Principais métodos diagnósticos disponíveis 

As abordagens mais confiáveis para o diagnóstico de intolerância alimentar envolvem inicialmente a restrição temporária de determinados alimentos, geralmente por duas semanas, seguida pela reintrodução e observação dos sintomas. Essa técnica simples e de baixo custo é utilizada especialmente no caso de carboidratos mal absorvidos, como a lactose, frutose e sacarose.  

Quando essa estratégia não é conclusiva, os testes respiratórios — que avaliam a produção de gases como hidrogênio e metano após a ingestão do alimento suspeito — podem oferecer um diagnóstico mais preciso. Em algumas situações, o teste genético também pode ser indicado, como nos casos de não persistência da lactase ou intolerância hereditária à frutose.  

Testes orais: destaque para lactose e glicose 

Os testes orais de tolerância são recursos importantes na prática clínica. O teste oral de tolerância à lactose, por exemplo, permite avaliar a capacidade do organismo de digerir esse açúcar, sendo útil para orientar mudanças alimentares e intervenções farmacológicas. Já o teste oral de tolerância à glicose (TOTG) é considerado o padrão-ouro para a detecção da intolerância à glicose, condição que representa um estágio intermediário entre a normoglicemia e o diabetes tipo 2.  

Ao medir a resposta glicêmica após a ingestão de uma solução padronizada de glicose, é possível identificar precocemente disfunções metabólicas, permitindo a adoção de medidas preventivas. 

Dados populacionais e contexto brasileiro 

No Brasil, a prevalência de intolerância à lactose é fortemente influenciada por fatores genéticos. A persistência da lactase, por exemplo, é mais comum em pessoas com maior ancestralidade europeia, especialmente no sul do país, enquanto regiões como o norte e nordeste apresentam maior incidência da intolerância devido à predominância de ancestrais africanos.  

Já os dados sobre intolerância à frutose e sacarose são mais escassos. Pesquisas recentes têm utilizado questionários de frequência alimentar validados localmente para estimar o consumo de FODMAPs, incluindo a frutose. No entanto, a validade desses instrumentos para esse açúcar específico ainda é limitada, indicando a necessidade de mais estudos. 

Condutas clínicas após o diagnóstico 

Uma vez diagnosticada a intolerância alimentar, a principal abordagem terapêutica consiste na modificação da dieta do paciente. No caso da lactose, é comum a substituição por produtos sem lactose ou o uso de enzimas como a lactase, que auxiliam na digestão. A intolerância à frutose, por sua vez, exige a redução do consumo de frutas, sucos e produtos industrializados com adoçantes à base de frutose.  

Quando o diagnóstico é de intolerância à sacarose, mais rara, pode ser indicada a restrição de doces e alimentos processados, além do uso de enzimas específicas como a sucrase. Além disso, é importante garantir a adequação nutricional do paciente, especialmente no que se refere à ingestão de cálcio e vitamina D em casos de exclusão de laticínios.  

A educação alimentar e o acompanhamento multiprofissional contribuem para a adesão ao tratamento e a prevenção de deficiências nutricionais. 

Benefícios clínicos do rastreamento

O rastreamento de intolerâncias alimentares melhora diretamente o prognóstico de pacientes com sintomas gastrointestinais inespecíficos e contribui para o sucesso de terapias em andamento.  

Em pacientes com doenças como síndrome do intestino irritável ou doenças inflamatórias intestinais, a identificação de intolerâncias pode reduzir exacerbações. Além disso, no contexto de doenças metabólicas, como a pré-diabetes, o diagnóstico de intolerância à glicose é um passo importante para evitar a progressão para o diabetes tipo 2 e suas complicações associadas.  

Assim, o rastreamento precoce promove uma abordagem clínica mais precisa, individualizada e preventiva. 

Quer entender como o diagnóstico de intolerância à lactose pode interferir em outras terapias clínicas? Leia nosso conteúdo sobre O diagnóstico de intolerância à lactose impacta outros tratamentos?  

Referências: 

Friedrich DC, Santos SE, Ribeiro-dos-Santos ÂK, Hutz MH. Several different lactase persistence associated alleles and high diversity of the lactase gene in the admixed Brazilian population. PLoS One. 2012;7(9):e46520. doi:10.1371/journal.pone.0046520 

Yamashita LM, Corona LP, Dantas da Silva E, et al. FODMAP project: Development, validation and reproducibility of a short food frequency questionnaire to estimate consumption of fermentable carbohydrates. Clin Nutr. 2021;40(5):3409-3420. doi:10.1016/j.clnu.2020.11.021 

Celi A, Trelis M, Ponce L, et al. Food-Intolerance Genetic Testing: A Useful Tool for the Dietary Management of Chronic Gastrointestinal Disorders. Nutrients. 2024;16(16):2741. Published 2024 Aug 16. doi:10.3390/nu16162741 

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