Os fios de sutura são materiais utilizados para selar vasos sanguíneos e aproximar tecidos. Eles surgiram há 3.500 anos antes de Cristo, no Egito, e colaboram até hoje com o ato de suturar. Quer saber mais sobre os tipos existentes de fios de sutura e suas indicações, além da história do material? Continue a leitura deste texto!
História dos fios de sutura
A história dos fios de sutura remete à antiguidade, há muitos anos antes de Cristo. Tudo começou a partir do momento em que o homem chegou à conclusão de que fechar os ferimentos de uma pessoa, ou até mesmo os próprios machucados, poderia ajudar a acelerar a cicatrização, além de amenizar a dor.
Mas foi especialmente a partir do ano 30 da era cristã, que vários tipos de materiais passaram a servir como fio de sutura, entre eles fibra de linho, filamento de seda, tiras da serosa de intestino de herbívoros, tendões de animais, fio do pelo da extremidade da cauda de bovinos e cabelo de camelo.
Contudo, foi apenas a partir do século XIII que a medicina começou a se preocupar não só com a origem do material utilizado como fio de sutura, mas também com a antissepsia do item, ou seja, se ele estava ausente de substâncias infecciosas que, ao invés de ajudar na cicatrização, poderiam interferir e provocar graves complicações.
De lá para cá, a prática da esterilização dos fios de sutura utilizados em cirurgias e outros procedimentos se tornou pauta e uma fabricação em escala industrial dos filamentos usados começou.
Atualmente, nos deparamos com uma variedade de fios para sutura já esterilizados, com agulhas pré-instaladas, praticamente prontos para uso. Além disso, novas possibilidades de eficácia estão sempre sendo testadas pela medicina.
O fato é que os fios de sutura surgiram e foram se desenvolvendo ao longo dos séculos para controlar hemorragias. Hoje, eles podem ser definidos como materiais utilizados para selar vasos sanguíneos — tubos ocos, que lembram canos, responsáveis por transportar sangue pelo corpo de seres humanos e animais, e distribuir oxigênio e nutrientes — e aproximar tecidos.
Classificação e tipos de fios de sutura
Os fios de sutura podem ser divididos em dois grandes grupos (absorvíveis e não absorvíveis) que agregam diversos tipos, de acordo com a pesquisa Fios de Sutura, de Aldo Cunha Medeiros, Irami Araújo-Filho e Marília Daniela Ferreira de Carvalho, publicada pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Absorvíveis
Os fios de sutura absorvíveis são aqueles que perdem a resistência à tração de forma gradual, até serem fagocitados, ou seja, absorvidos, ou hidrolisados, quando se decompõem.
Quanto a origem desse tipo de fio de sutura, pode ser animal (catgut simples e cromado) ou sintéticos multi ou monofilamentares (poliglactina, poliglecaprone e polidioxanona).
Alguns dos tipos de fios de sutura absorvíveis são:
Catgut
Fabricado a partir do colágeno da submucosa do intestino de ovinos, mas também da serosa intestinal de bovinos.
Ácido poliglicólico (Dexon)
Fio multifilamentar trançado, sintético, absorvível por hidrólise, a partir da qual é liberado o monômero ácido glicólico solúvel.
Poliglactina 910 (Vicril)
Multifilamentar, é composto por 90% de ácido glicólico e 10% de ácido lático. Cerca de 50% do material costuma ser absorvido por hidrólise após o 28º dia pós-operatório e 100% depois do 70º dia.
Polidioxanona (PDS)
Possui cor violeta, é absorvido por hidrólise, e o tempo de absorção é mais prolongado que o da poliglactina. Também é um fio monofilamentar, porém feito a partir da polimerização da paradioxanona.
Poliglecaprone (Monocril)
Fio monofilamentar de classificação absorvível, sendo um copolímero da epsilon-caprolactona e glicolida. Tem boa facilidade de manuseio, mínima resistência durante a passagem através dos tecidos e resistência à tensão adequada.
Poligliconato (Maxon)
De absorção lenta e alta resistência, é um fio monofilamentar. Quando empregado no fechamento de parede abdominal, apresenta grande resistência à tensão no pós-operatório.
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Não absorvíveis
Já a respeito dos fios de sutura não absorvíveis, eles podem ser definidos como aqueles que se mantêm no tecido onde foram implantados. A origem possui mais variações, e pode ser animal (seda), mineral (aço), vegetal (algodão ou linho) ou sintética (poliamida, poliéster, polipropileno).
Alguns dos tipos de fios de sutura não absorvíveis são:
Algodão, linho e seda
Correspondem a fios multifilamentares de fibras naturais que têm elevada resistência. Possuem fácil manuseio e proporcionam nó mecanicamente firme. São amplamente utilizados em hospitais por conta do baixo custo.
Poliéster (Dacron, Mersilene)
Esse tipo de fio é multifilamentar, trançado e de alta resistência, é confeccionado por meio da polimerização de éster resultante da combinação do etilenoglicol com o ácido tereftálico. Por ter um alto coeficiente de atrito, o manuseio não é simples, o que torna seu uso limitado.
Poliamida (Nylon)
Bem tolerado em tecidos infectados na apresentação monofilamentar, tem baixo custo e fácil manuseio. No entanto, os nós podem se desfazer facilmente. Está disponível como monofilamentar e multifilamentar trançado.
Polipropileno (Prolene, Surgilene)
Sendo um fio monofilamentar, pode ser encontrado na cor azul. É biologicamente inerte mesmo na presença de infecção. Apresenta fácil manuseio, o nó é firme, tem elasticidade adequada e grande resistência química a ácidos, álcalis e enzimas.
Politetrafluoretileno (PTFE)
Não absorvível, este fio monofilamentar apresenta bons resultados na cirurgia plástica, especialmente na região da face, gerando menor reação tecidual.
Polibutester (Novafil)
O fio polibutester apresenta boa elasticidade, flexibilidade e resistência à tensão, sendo um fio monofilamentar sintético.
De forma geral, os fios absorvíveis são utilizados para suturas invasivas, enquanto os não absorvíveis são utilizados para suturas externas. Já os fios de seda são utilizados em suturas odontológicas.
Espessura dos fios de sutura
Cada fio tem uma espessura e serve para procedimentos específicos. Fios finos 6-0 a 4-0 servem para microcirurgias, cirurgias plásticas, suturas de pele, cirurgia vascular, reconstruções de estruturas finas (ureter, vias biliares, tuba uterina, etc.).
Fios intermediários, entre 3-0 a 1-0, são mais usados em cirurgia abdominal e ginecológica. E os fios grossos, de 1 a 3, são comumente utilizados quando se precisa de grande força tênsil em cirurgias abdominal ou torácica sobre regiões de grande tensão, músculos, etc.
Características para uma boa sutura
Para que seja realizada uma sutura com o mínimo de rejeição e o máximo de sucesso, o fio cirúrgico deve possuir algumas características. Listamos cada uma delas abaixo!
Resistência
O fio de sutura deve ter boa resistência à tração e à torção, uma vez que, no ato da sutura, o cirurgião exerce força para que o fio deslize pelos tecidos (tração) e força para a realização e fixação do nó (torção).
Força tênsil
Possuir força tênsil adequada ao tempo de cicatrização dos diferentes tecidos onde for aplicada é mais uma característica indispensável ao fio utilizado.
A força tênsil equivale à resistência do fio à degradação ao qual é submetido, e está diretamente relacionada à composição e a forma de construção do fio. Portanto, quanto maior a força tênsil do material, maior a capacidade de manter os tecidos unidos por mais tempo.
Contudo, essa característica é aplicável somente a uma classificação de fio de sutura, os absorvíveis.
Flexibilidade
Um fio de sutura precisa ser flexível, pois a facilidade de manipulação do material favorece a técnica do cirurgião e se adequa melhor ao objetivo final do procedimento.
Baixa reação tecidual
Para que ocorra menor sensibilização dos tecidos suturados e o sucesso no processo de cicatrização seja garantido, é indispensável que o fio de sutura apresente baixa reação tecidual (hipoalergênicos).
Essa necessidade se dá porque reações inflamatórias de lesões teciduais são uma das primeiras fases do período de cicatrização. Sendo assim, o material utilizado na sutura não deve irritar mais o local. Caso isso ocorra, ele pode exacerbar e cronificar, gerando transtornos.
Esterilidade
Um fio de sutura constituir-se estéril e vir armazenado de modo adequado para evitar contaminação por microrganismos no momento da cirurgia e no pós-cirúrgico também é outra forma de garantir um procedimento eficaz.
Encastoamento
O encastoamento consiste na fixação do fio à agulha de sutura. Na realidade atual, em que as suturas cirúrgicas já vêm encastoadas, ou soldadas eletronicamente aos fios, é importante que essa junção apresente boa resistência.
Assim, evita-se a perda do fio e, consequentemente, o comprometimento do ato de suturar, caso ele venha a se soltar quando submetido à tração e torção (resistência) exercidas pelo cirurgião e pelos tecidos.
No Brasil, são acreditados laboratórios para que os mesmos possam realizar estes ensaios.
Aquisição de fios de sutura
Antes de adquirir fios de sutura, é necessário se atentar a alguns cuidados a fim de garantir a qualidade do material, assim como a eficácia no procedimento e a segurança do paciente.
Para isso, o rótulo e a embalagem do fio cirúrgico devem apresentar informações detalhadas para que o profissional de saúde possa identificar o uso de acordo com a região a ser suturada.
A embalagem deve conter as informações a seguir, sendo que a ausência de qualquer um desses dados pode confundir na escolha do fio.
- Validade: observe a validade do produto, uma vez que o fio, quando utilizado fora do prazo de validade, pode quebrar e causar danos maiores aos tecidos lesados;
- Registro da Anvisa: a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), vinculada ao Ministério da Saúde, garante o controle sanitário dos fios de sutura comercializados no país;
- Nome do produto e a composição química: a composição química do fio que determinará em qual procedimento o mesmo será utilizado;
- Simbologia da ponta da agulha: responsável por definir o corte, a penetração e a estabilidade de transfixação;
- Número da agulha: cada calibre de agulha deve ser utilizado em um tipo de tecido diferente;
- Curvatura da agulha: as agulhas mais retas são usadas em tecidos próximos à superfície e nos intestinos, ao passo que as agulhas curvas são mais convenientes para ferimentos pequenos, profundos ou em cavidades;
- Tamanho do fio: dependendo do tamanho do fio de sutura, possui finalidade cirúrgica diferente. Por exemplo, fios menores são utilizados em cirurgias de órgãos menores como oftálmicas, enquanto que fios maiores são utilizados em órgãos maiores ou mais invasivos, como a laparotomia;
- Indicação cirúrgica: é importante para direcionar a equipe de farmácia na separação do fio de cada kit cirúrgico.
Vale ressaltar, por fim, que as características e as propriedades de ambos os tipos de fios são definidas por órgãos oficiais e associações normalizadoras. No Brasil, temos a Farmacopéia Brasileira e a norma brasileira NBR13904 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), entre outras que se referem aos processos industriais. Além disso, a medida dos fios atende à norma da farmacopéia dos Estados Unidos (United States Pharmacopeia-USP).
A escolha do fio de sutura ideal não pode ser feita aleatoriamente, e deve seguir algumas especificidades, como ser baseada nas propriedades biológicas dos tecidos que serão aproximados, entre outros fatores.
Por esse motivo, entender a as características de cada tipo de fio de sutura existente, assim como a finalidade mais recomendada para o material, é indispensável.
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